quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

POBRE PAI NATAL…



Isto com os avós já se sabe…os netos esticam, nós encolhemos.
Sabe-se que esse encolhimento e movimento contrário acontece, assim de uma maneira suave, quase sem as nossas costas darem muito por isso. Mas dão,claro!
Um dia nós pais antigos e experimentados, vamos ver os netos novos em folha a casa deles, ou seja dos pais, que eles ainda são de tamanho diminuto para saberem que têm uma casa. Pois se nem sequer ainda sabem que são netos!
Olhamos para eles dizemos à mãe que me parece que vem dali um cheirinho, Mariana, vê lá o que é…
Passam “uns minutos” e enquanto os enchemos de rocas e ursos de peluche que a pobre Mariana vai ter que ir pondo de lado sorrateiramente para não nos ofender, começamos a achar como é grande o mistério de que são feitos os bebés que ainda ontem estavam deitados a agitar as pernas e agora dão passitos trambalhudos com elas!
É a altura em que o bicho avô entra a pensar de que maneira vai colaborar (colaborar? Gerir!!) no estragar sereno da feroz educação que os pais lhes querem dar! Que mal faz andar com o garoto às cavalitas? Ainda não tem idade, dizes? Ele tem que aprender para ser um homem!
- Pai, esse não é o Bernardo, é a Sofia!
Bem se sabe que os gémeos complicam a vida aos avós…
Que seja!
Falhado o plano do mimo excessivo, recua-se uns instantes nas atitudes e chega a hora em que são os netos que vêm a nossa casa comer os doces da avó às escondidas da Mariana ou do Pedro – o açúcar não faz mal, dá-lhes forças, velhota! –
- E aparelho novo dos dentes, quem é que vai dizer à tua filha que há um “pequeno problema” com ele? Eu? Não! Tu vais!
- E já que aqui estás, Sofia, diz-me cá como é que converto esta fotografia em ficheiro jpg? - Não vá já a correr ao seu neto perguntar o que é essa palavra que não existia no “nosso tempo”: eu explico. É uma coisa que faz com a gente possa ver a fotografia dos miúdos no computador. Se não é isso, juro que está próximo! Mas que é do computador, ai isso é!
Vê como eu dizia que há crescimentos contrários? E não é só no tamanho, é também no que sabem e não querem nem saber do que nós já estamos a esquecer…
Isto com os avós já se sabe…os netos esticam, nós encolhemos…Não foi assim que comecei a contar esta historieta?
Tenho uma gata em casa, a Estefânia, bicha de riscas no lombo e malandrice suficiente para a reconhecer em qualquer lado. Adivinham já que ela é um bocadinho vadia, sai de casa e torna a entrar com o silêncio das patas de garras encolhidas. Chamo-lhe um pouco vadia mas fui que a apanhei na rua onde andava ao caixote na procura do carapau do dia-a-dia. Pelo ar via-se que era mais o carapau da semana a semana…. E não são só os gatos que andam nisso, infelizmente!
Com a aproximação do Natal, em Outubro já as lojas põem bolinhas chamarizes penduradas juntinho às etiquetas dos novos preços, e ainda em Novembro aparecem os pinheiros decorados e os Pais Natal às portas dos estabelecimentos – ainda bem para eles que o tempo comercial do Natal foi prolongado, é mais um mês em que comem, não têm que imitar a minha Estefânia quando ainda era só gata.
Mas – lá vem o fatídico mas… - Novembro passou também a ser o” GRANDE TORMENTO DOS AVÓS E PAIS REUNIDOS” não só por causa do problema das compras, tantas com tão pouco dinheiro, mas pior! A criançada quer à viva força saber se o Pai Natal existe mesmo!
Como não é oportuno ter uma porca para torcer o rabo, há que fazê-lo à identidade do velhote vestido à refrigerante. Bem, isso seria fácil se pais actuais e pais mais antigos, tivessem a mesma visão sobre essa pertinente identificação. Mas parece que não têm, ou melhor e mais certo, não têm mesmo!
O garoto veio cá para casa em dia em que, recolhedor de crianças de serviço aos impedimentos dos pais, o fui buscar à escolinha, e que coisa lhe dá para querer saber?
- Vovô! Há Pai Natal?
E logo, sem me permitir a diplomacia de uma resposta vaga e moderadamente mentirosa:
- Avô, o Pai Natal vive na Lapónia?
Já é maravilhoso que o ”piqueno” saiba que há uma Lapónia. Mas lamento dizer que ao passar por um grande Centro Comercial lá vi cartaz e ouvi vendedoras, apregoando “…Compre (diz o nome) e vá com os netos à Lapónia à casa do Pai Natal!”. Encanto desfeito, só terei que pensar numa difícil lição de geografia…e nem toda a gente sabe em que Lapónia o Pai Natal tem casa alugada à época.
Vamos à luta…
- Sabes onde fica a Lapónia, filho?
- Não…O que é a Lapónia?
Nada custa adivinhar que rapidamente me vi envolvido em questões de definições árticas, absolutas dificuldades em ser coerente com o estacionamento do pólo Norte, destrinçando-o do Equador, coisa muito mais abaixo, Bernardo, fugindo rapidamente ao assunto 20 graus menos que zero, por aí, como vêem…
Ainda estava empenhado em dizer ao pequenote que um esquimó não era um gelado, mesmo que estivesse muito fresquinho, quando chegou o pai dele. Como eu gostei tanto de ver um pai que não era o meu!!
- Pedro, tens o Bernardo, devolvo-to. Ele quer saber umas informações sobre o…
- Beijinho, pai! Onde é que vive o Pai Natal?
Tanto trabalho geográfico para nada…Mas já ouvirei do pai dele, se o Pedro lhe conseguir esclarecer onde é que fica o cocuruto da Finlândia!
- Na Lapónia, filho!
Mau, mau…
- E o Pai Natal anda com uns bichos que têm corninhos grandes na cabeça?
Ri-me para dentro! Estes garotos de agora sabem-na toda! Corninhos grandes na cabeça? Sempre quero ver como é que o meu genro se salva desta! Vai ser mais uma para explicar!
Foram embora. Não tive tempo de contar ao Pedro todas as ingentes dúvidas do filho sobre este e outros problemas natalícios, donde aqui se deixa ver onde está realmente o perigo de não se acertarem previamente conceitos claríssimos sobre o personagem! Perigo nasce logo dessa descoordenação! Sei lá o que ele vai contar ao Bernardo sobre o falso velho barrigudo das barbas brancas! Teremos grave litígio infantil pela certa!
Amanhã logo bem cedo tenho que telefonar ao progenitor da criança para atalhar o problema pelas barbas! Não posso esquecer!
Tentando não ouvir vindo da rua e dos anúncios da rádio o teimoso “ Jingle bells, jingle bells” – que diabo, ainda estamos no final de Novembro! – ia passando a mão pelo lombo da Estefânia que nunca me punha problemas difíceis para além do arranjar bofe ou chicharro para ela. Nalgumas coisas gato é gato, e não serei eu a pendurar-lhe ao pescoço um sininho para saber onde é que ela pára ou …para dizer que é Natal na gatolândia!
E espertos são eles, os miaus! Quando passei o ano novo na Lapónia – explica-se o avanço dos meus conhecimentos geográficos – gatos abaixo de 12 graus só mesmo dentro das casas e não eram muitos!
Estes pensamentos divagantes são confortos já permitidos à gente da nossa idade…e os gatos gostam de festas…às vezes!
A campainha que ouvi lá para os confins, não provinha de nenhum badalo nataleiro, mas da minha própria porta!
- D. Maria da Luz, vai lá ver quem é!
Moita.
- Luuuz!
Outra moita! Esqueci-me com as festas ao gato - ela que não oiça! - gata, de que a minha mulher fora ao mercado ali à esquina. Lá tive que meter a gata debaixo do braço e ir atender a quem batia. Mariana é o teu nome, susto é o que pregaste!
- Porquê, Pai?
- Não estava cá, andava na gatolândia a
- ONDE PAI?
- Não ligues…O que te trás por cá assim de susto pregado?
- Posso vir cá deixar a Sofia o resto da tarde? Tenho que sair e o pai dela foi para um congresso…
- Espero que de geografia… – rosnei sem que a Mariana entendesse o quê ou o porquê.
- Trás lá a garota! Olha uma coisa: ela sabe se há Pai Natal ou não?
- Paizinho…francamente não sei…
- E de renas? Sabe o que são?
Passei em branco a pergunta sobre a Lapónia e a casa do Pai Natal…Com um bocado de sorte, não teria que enfrentar um rigoroso inquérito sobre tão temidas dúvidas!
- A que horas vens com ela?
- Daqui a uma hora, mais ou menos.
- Ok, cá estarei à espera. Pode ser que a tua mãe chegue…
Nem pensem que me preparava para passar à D. Luz qualquer problema embrulhado em Natal! Nunca…
Como chegaram as duas ao mesmo tempo, lá fomos avós e neta a uma mesa para o lanche.
Disse que nunca passaria o problema à D. Luz, disse? E acham bem ter sido ela a perguntar à Sofia, acreditas no Pai Natal? Ao menos as gatas são mudas de perguntas fora de propósito!
- Avó, sei que os pais Natal, são as pessoas, mas não sei se foi o Pai Natal que mandou o postal do Pólo Norte no ano passado…
- Veio da casa do Pai Natal - pude informar com a certeza de ter sido a minha mão que o escreveu e a da Luz que o meteu no correio lá na Lap…já sabem onde.
- Se calhar há Pai Natal que dá os brinquedos e os meus pais também dão!
- É possível, sim Sofia.
- E onde é que eles arranjam tantos brinquedos para dar? Devem assaltar as lojas!
- QUEM assalta as lojas, filha?!!! Ninguém assalta as lojas, querida!
E antes de mais qualquer assalto à dignidade do barbudo condutor de renas, fui explicando que o pobre tinha umas fábricas lá no Pólo e que os homens às portas das lojas de encarnado e sino na mão a dizer  “Ho Ho HO”, não eram ladrões mandados por ele, mas representantes do benemérito lá de cima, dos frios e das neves.
Rapidamente falei do presépio, de todos os personagens que a tradição manda manter viva, arrulhei mais umas frases sobre o significado de todas estas balbúrdias entre Outubro e Dezembro! Vês, Sofia?
- Vejo, avô, Mas o Pai Natal assalta as lojas porque não sabe fazer tantos brinquedos!
Vi ruir toda a magia da época…
- Mas gosto muito dos gnomos?
 Renascia a esperança!
- Porquê miúda?
- Porque são feitos de chocolate!

3 comentários:

  1. está giro Toni - a mistura da imaginação com a Família e com a fantasia do Pai Natal está vinda do interior,podes continuar voando sempre + alto. Teresa

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  2. Teremos que os acompanhar, descendo à sua idade, crianças são mesmo assim...
    E a reflexão terá que estar sempre presente.
    Bom Ano 2012.

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