Isto
com os avós já se sabe…os netos esticam, nós encolhemos.
Sabe-se
que esse encolhimento e movimento contrário acontece, assim de uma maneira
suave, quase sem as nossas costas darem muito por isso. Mas dão,claro!
Um
dia nós pais antigos e experimentados, vamos ver os netos novos em folha a casa
deles, ou seja dos pais, que eles ainda são de tamanho diminuto para saberem
que têm uma casa. Pois se nem sequer ainda sabem que são netos!
Olhamos
para eles dizemos à mãe que me parece que
vem dali um cheirinho, Mariana, vê lá o que é…
Passam
“uns minutos” e enquanto os enchemos de rocas e ursos de peluche que a pobre
Mariana vai ter que ir pondo de lado sorrateiramente para não nos ofender,
começamos a achar como é grande o mistério de que são feitos os bebés que ainda
ontem estavam deitados a agitar as pernas e agora dão passitos trambalhudos com
elas!
É
a altura em que o bicho avô entra a pensar de que maneira vai colaborar
(colaborar? Gerir!!) no estragar sereno da feroz educação que os pais lhes
querem dar! Que mal faz andar com o garoto às cavalitas? Ainda não tem idade,
dizes? Ele tem que aprender para ser um homem!
-
Pai, esse não é o Bernardo, é a Sofia!
Bem
se sabe que os gémeos complicam a vida aos avós…
Que
seja!
Falhado
o plano do mimo excessivo, recua-se uns instantes nas atitudes e chega a hora
em que são os netos que vêm a nossa casa comer os doces da avó às escondidas da
Mariana ou do Pedro – o açúcar não faz
mal, dá-lhes forças, velhota! –
-
E aparelho novo dos dentes, quem é que vai dizer à tua filha que há um “pequeno problema” com ele? Eu? Não! Tu
vais!
-
E já que aqui estás, Sofia, diz-me cá como é que converto esta fotografia em ficheiro
jpg? - Não vá já a correr ao seu neto perguntar o que é essa palavra que não
existia no “nosso tempo”: eu explico. É uma coisa que faz com a gente possa ver
a fotografia dos miúdos no computador. Se não é isso, juro que está próximo!
Mas que é do computador, ai isso é!
Vê
como eu dizia que há crescimentos contrários? E não é só no tamanho, é também
no que sabem e não querem nem saber do que nós já estamos a esquecer…
Isto
com os avós já se sabe…os netos esticam, nós encolhemos…Não foi assim que
comecei a contar esta historieta?
Tenho
uma gata em casa, a Estefânia, bicha de riscas no lombo e malandrice suficiente
para a reconhecer em qualquer lado. Adivinham já que ela é um bocadinho vadia,
sai de casa e torna a entrar com o silêncio das patas de garras encolhidas. Chamo-lhe
um pouco vadia mas fui que a apanhei
na rua onde andava ao caixote na procura do carapau do dia-a-dia. Pelo ar
via-se que era mais o carapau da semana a semana…. E não são só os gatos que
andam nisso, infelizmente!
Com
a aproximação do Natal, em Outubro já as lojas põem bolinhas chamarizes penduradas
juntinho às etiquetas dos novos preços, e ainda em Novembro aparecem os
pinheiros decorados e os Pais Natal às portas dos estabelecimentos – ainda bem
para eles que o tempo comercial do Natal foi prolongado, é mais um mês em que
comem, não têm que imitar a minha Estefânia quando ainda era só gata.
Mas
– lá vem o fatídico mas… - Novembro passou também a ser o” GRANDE TORMENTO DOS
AVÓS E PAIS REUNIDOS” não só por causa do problema das compras, tantas com tão
pouco dinheiro, mas pior! A criançada quer à viva força saber se o Pai Natal
existe mesmo!
Como
não é oportuno ter uma porca para torcer o rabo, há que fazê-lo à identidade do
velhote vestido à refrigerante. Bem, isso seria fácil se pais actuais e pais
mais antigos, tivessem a mesma visão sobre essa pertinente identificação. Mas
parece que não têm, ou melhor e mais certo, não têm mesmo!
O
garoto veio cá para casa em dia em que, recolhedor de crianças de serviço aos
impedimentos dos pais, o fui buscar à escolinha, e que coisa lhe dá para querer
saber?
-
Vovô! Há Pai Natal?
E
logo, sem me permitir a diplomacia de uma resposta vaga e moderadamente
mentirosa:
-
Avô, o Pai Natal vive na Lapónia?
Já
é maravilhoso que o ”piqueno” saiba que há uma Lapónia. Mas lamento dizer que
ao passar por um grande Centro Comercial lá vi cartaz e ouvi vendedoras,
apregoando “…Compre (diz o nome) e vá com os netos à Lapónia à casa do Pai
Natal!”. Encanto desfeito, só terei que pensar numa difícil lição de
geografia…e nem toda a gente sabe em que Lapónia o Pai Natal tem casa alugada à
época.
Vamos
à luta…
-
Sabes onde fica a Lapónia, filho?
-
Não…O que é a Lapónia?
Nada
custa adivinhar que rapidamente me vi envolvido em questões de definições árticas,
absolutas dificuldades em ser coerente com o estacionamento do pólo Norte,
destrinçando-o do Equador, coisa muito
mais abaixo, Bernardo, fugindo rapidamente ao assunto 20 graus menos que zero,
por aí, como vêem…
Ainda
estava empenhado em dizer ao pequenote que um esquimó não era um gelado, mesmo
que estivesse muito fresquinho, quando chegou o pai dele. Como eu gostei tanto
de ver um pai que não era o meu!!
-
Pedro, tens o Bernardo, devolvo-to. Ele quer saber umas informações sobre o…
-
Beijinho, pai! Onde é que vive o Pai Natal?
Tanto
trabalho geográfico para nada…Mas já ouvirei do pai dele, se o Pedro lhe
conseguir esclarecer onde é que fica o cocuruto da Finlândia!
-
Na Lapónia, filho!
Mau,
mau…
-
E o Pai Natal anda com uns bichos que têm corninhos grandes na cabeça?
Ri-me
para dentro! Estes garotos de agora sabem-na toda! Corninhos grandes na cabeça?
Sempre quero ver como é que o meu genro se salva desta! Vai ser mais uma para
explicar!
Foram
embora. Não tive tempo de contar ao Pedro todas as ingentes dúvidas do filho
sobre este e outros problemas natalícios, donde aqui se deixa ver onde está
realmente o perigo de não se acertarem previamente conceitos claríssimos sobre
o personagem! Perigo nasce logo dessa descoordenação! Sei lá o que ele vai contar
ao Bernardo sobre o falso velho barrigudo das barbas brancas! Teremos grave
litígio infantil pela certa!
Amanhã
logo bem cedo tenho que telefonar ao progenitor da criança para atalhar o
problema pelas barbas! Não posso esquecer!
Tentando
não ouvir vindo da rua e dos anúncios da rádio o teimoso “ Jingle bells, jingle bells” – que diabo, ainda estamos no final
de Novembro! – ia passando a mão pelo lombo da Estefânia que nunca me punha
problemas difíceis para além do arranjar bofe ou chicharro para ela. Nalgumas
coisas gato é gato, e não serei eu a pendurar-lhe ao pescoço um sininho para
saber onde é que ela pára ou …para dizer que é Natal na gatolândia!
E
espertos são eles, os miaus! Quando passei o ano novo na Lapónia – explica-se o
avanço dos meus conhecimentos geográficos – gatos abaixo de 12 graus só mesmo
dentro das casas e não eram muitos!
Estes
pensamentos divagantes são confortos já permitidos à gente da nossa idade…e os
gatos gostam de festas…às vezes!
A
campainha que ouvi lá para os confins, não provinha de nenhum badalo nataleiro,
mas da minha própria porta!
-
D. Maria da Luz, vai lá ver quem é!
Moita.
-
Luuuz!
Outra
moita! Esqueci-me com as festas ao gato - ela que não oiça! - gata, de que a
minha mulher fora ao mercado ali à esquina. Lá tive que meter a gata debaixo do
braço e ir atender a quem batia. Mariana
é o teu nome, susto é o que pregaste!
-
Porquê, Pai?
-
Não estava cá, andava na gatolândia a
-
ONDE PAI?
-
Não ligues…O que te trás por cá assim de susto pregado?
-
Posso vir cá deixar a Sofia o resto da tarde? Tenho que sair e o pai dela foi
para um congresso…
-
Espero que de geografia… – rosnei sem que a Mariana entendesse o quê ou o
porquê.
-
Trás lá a garota! Olha uma coisa: ela sabe se há Pai Natal ou não?
-
Paizinho…francamente não sei…
-
E de renas? Sabe o que são?
Passei
em branco a pergunta sobre a Lapónia e a casa do Pai Natal…Com um bocado de
sorte, não teria que enfrentar um rigoroso inquérito sobre tão temidas dúvidas!
-
A que horas vens com ela?
-
Daqui a uma hora, mais ou menos.
-
Ok, cá estarei à espera. Pode ser que a tua mãe chegue…
Nem
pensem que me preparava para passar à D. Luz qualquer problema embrulhado em
Natal! Nunca…
Como
chegaram as duas ao mesmo tempo, lá fomos avós e neta a uma mesa para o lanche.
Disse
que nunca passaria o problema à D. Luz, disse? E acham bem ter sido ela a
perguntar à Sofia, acreditas no Pai Natal?
Ao menos as gatas são mudas de perguntas fora de propósito!
-
Avó, sei que os pais Natal, são as pessoas, mas não sei se foi o Pai Natal que mandou
o postal do Pólo Norte no ano passado…
-
Veio da casa do Pai Natal - pude informar com a certeza de ter sido a minha mão
que o escreveu e a da Luz que o meteu no correio lá na Lap…já sabem onde.
-
Se calhar há Pai Natal que dá os brinquedos e os meus pais também dão!
-
É possível, sim Sofia.
-
E onde é que eles arranjam tantos brinquedos para dar? Devem assaltar as lojas!
-
QUEM assalta as lojas, filha?!!! Ninguém assalta as lojas, querida!
E
antes de mais qualquer assalto à dignidade do barbudo condutor de renas, fui
explicando que o pobre tinha umas fábricas lá no Pólo e que os homens às portas
das lojas de encarnado e sino na mão a dizer
“Ho Ho HO”, não eram ladrões mandados por ele, mas representantes do
benemérito lá de cima, dos frios e das neves.
Rapidamente
falei do presépio, de todos os personagens que a tradição manda manter viva, arrulhei
mais umas frases sobre o significado de todas estas balbúrdias entre Outubro e
Dezembro! Vês, Sofia?
-
Vejo, avô, Mas o Pai Natal assalta as lojas porque não sabe fazer tantos
brinquedos!
Vi
ruir toda a magia da época…
-
Mas gosto muito dos gnomos?
Renascia a esperança!
-
Porquê miúda?
-
Porque são feitos de chocolate!
está giro Toni - a mistura da imaginação com a Família e com a fantasia do Pai Natal está vinda do interior,podes continuar voando sempre + alto. Teresa
ResponderEliminarTeremos que os acompanhar, descendo à sua idade, crianças são mesmo assim...
ResponderEliminarE a reflexão terá que estar sempre presente.
Bom Ano 2012.
Muito bnito,gostei imenso
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