A ESTEFÂNIA CONTENTE DE VOLTAR A CASA DEPOIS DE TER ROUBADO UM CARAPAU
Toda
a gente viu que a minha querida gatinha, apertada pelos desejos de não estar
presa, meteu patas aos seus recursos e vendo-me irritado contra os que roubam e
esfolam sem nada lhes acontecer, saiu pela janela fora com um carapau na boca.
Tive
imenso desgosto e pela companhia que me faz, era muito homem para lhe perdoar a
facécia. Pois se há humanos que desviam impunemente os seus salmões para o país das
neves (coisas do upgrade, carapau é só para gatas de pé descalço sem relevo
social…), porque não hei-de eu de aceitar o pequeno roubo feito pela Estefânia?
Pois
fica-se a saber que a minha gata voltou e está perdoada, não lhe vou exigir de
volta o peixinho roubado.
Mas
depois das festas iniciais – como ela arqueia o lombo sob as minhas mãos para
se fazer esquecer das maldades…É gata, feminina, vê-se pelo ar e gesto – dei
comigo a pensar porque razão voltaria ela tão depressa para a “prisão” caseira?
Costuma-se dizer “ali há gato” mas gato já ela é!
Sabem que é difícil pensar como os ditos irracionais,
categoria que decididamente atribuo mais a muitos homens do que a muitos gatos.
Nunca vi um gato matar por prazer ou sadismo. Já os homens…
Os bichos são lógicos, o disparate pegado não entra
do ADN deles, pelo que sendo eu dono, sim senhor (julgo…) mas humano, acredito
que não é assim com qualquer treta que sei o que a Estefânia pensa ou quer.
Aqui o hábito faz o gato, percebem bem o trocadilho?
Mister é, portanto, com os defeitos de homem analisar
o comportamento da gata. Uso a intuição, posso?
E essa feminil virtude misteriosa e profunda,
levou-me a concluir porque razão a Estefânia não se aguentou fora de casa!
Porquê? Deduza-se
então.
Como não é
possível que ela tenha tido conhecimento de que há um senhor muito bem posto
que está a projectar um peditório para as suas despesas, e como igualmente se
vê difícil o regresso dela à vida de andar ao caixote, modo de vida esse, que
não lhe servindo, se está a tornar comum a despedidos e reformados, onde poderá
estar a razão de tão repentino regresso?
Se ela fosse gente de casaco, gravata e anel de
pedras no dedo, eu diria que teria criado um horror aos impostos, à obrigação
de os pagar a bem de todos como consta na lei vigente, ainda que só para
alguns, percebe-se! Mas não, é gato não paga impostos, à semelhança de muitos
importantes da nação.
Como não tem propriedades vendáveis a chineses e
africanos, poderá estar por aí a razão do regresso. Falta de preocupação com
liquidez e dívida externa, certamente.
Claro que
há os que são ricos porque têm muitas dívidas, mas fazem as orelhas moucas às
responsabilidades. Outros que paguem! Os poderosos é que nunca, senão
arriscavam-se a deixar de ser clientes de bons carros e estâncias de luxo. Já
se entende o prejuízo que isso iria causar ao turismo da Grécia? Hem? Pode lá
ser, prejudicar os pobres e escalavrados gregos?
A dar-se o
caso dos eminentes pagarem impostos como os mais necessitados, o que é que
aconteceria aos fundos da solidariedade internacional? Se calhar iriam também
causar sérios problemas aos bancos das Ilhas Caimão, quem sabe? Que horror
prejudicar os pobrezinhos! Nem pensar!
A minha
Estefânia…como a compreendo… como nada tem escondido para comerciar, não
precisa de fingir que é desprovida de meios.
Como não
tem nenhum familiar pobrezinho lá fora com enormes contas nos bancos a quem
ajudar, pode dormir.
A Justiça
não lhe pega, faça ela o que fizer menos roubar pouco, e como sou eu, contribuinte
privado e público, que lhe paga a sarda fresca, …voltou para casa! Clarinho,
não?
Que raiva me faz vê-la feliz a ronronar na almofadinha
ao pé da lareira! E paga por mim com IVA novo e tudo!
Bastante acutilante. Gostei.
ResponderEliminarMargarida