quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A GATA ESTEFÂNIA NÃO GOSTA DE ESTAR PRESA!


A gata Estefânia é como certos portugueses, não gosta de estar presa, que hei-de fazer?

É um facto indesmentível: a minha Estefânia detesta estar presa! E quero dizer-vos que o tipo de prisão é domiciliária e o que a gata tem ao pescoço é uma simples coleira contra as pulgas ou bichos afins, e não é nem por sombras uma pulseira de controlo à distância!
Mas não gosta e pronto! Tenho que recordar que a gata foi apanhada por mim no Largo de D.Estefânia onde lutava sem muito resultado contra a escassez de carapau nos caixotes do lixo. Não fui espreitar, mas nada me custa a crer que havia concorrência humana na colheita das comidas lançadas ao lixo. Pobre gata!
Bom agora já recordei os tempos maus da minha Estefânia, vendo-se já com clareza porque tenho uma gata em casa com quem vou falando às vezes.
É muito humana nas reacções, quando lhe falo, feroz e iracundo, dos tribunais que põem na rua criminosos apanhados em flagrante ou quase, o felino olha para mim e deve pensar pelo que vejo no movimento dos bigodes, que isso não estará certo, mas que compreende que essas pessoas, mesmo depois de serem apanhadas a rebentar à bomba as caixas de multibanco, odeiem ir presas. É natural, não é?
Estava eu a ler no jornal que as autoridades depois de apanharem uns indivíduos de raça cigana, os libertaram com ordens de aparecerem na esquadra de oito em oito dias! Ora se eu abrir a porta à minha Estefânia, o que é que hei-de esperar? Que volte? Nem pensar! Porque ela tem o seu quê de nómada como os gatunos a quem mandam apresentar periodicamente numa esquadra! Parvoíce da grossa!
E se ela desaparecesse, sem quaisquer consequências além do desgosto que me causava, dava-lhe razão e força para ela repetir a gracinha! Pois se nada lhe acontecia por roubar carapaus, verdade indesmentível é que dessa forma o crime não só compensa como é estimulado!
Ela como animal não falante, nunca me disse se percebe o que vê na televisão – em certas alturas ninguém a tira da frente do televisor – mas posso desconfiar que há coisas que não lhe escapam. A pouca vergonha, a falta de autoridade a que se assiste, é de molde a espantar qualquer menos distraído ou até o meu bichano!
Vejam lá que outro dia estava, melhor dizer estávamos, a ver um noticiário que falava de uns pobres coitados que com imenso trabalho metiam o seu vasto dinheiro em sítios bem recatados, longe do olhar de qualquer gato-sapato que lhes pudesse vir a fazer a desfeita de lhes cobrar impostos! Ora isso pode lá ser, Estefânia! É crime?
Rouba a sério um homem com evidente sacrifício da sua vida privada e familiar, para ser sujeito a prisões e impostos? Nunca! Mas ele é algum vulgar contribuinte para o tratarem dessa maneira! E ser preso por isso?
Não achas bem, bichana, que não prendam quem não declara impostos e tem ganhos súbitos e tamanhos?
O quê, achas? É surpresa para mim que pensava que isso era crime de lesa economia…Mas se pensas que é mal feito incomodar esses homens de negócios de todas as cores menos o branco, lá saberás na tua serena e gatal opinião.
E os merceeiros que vendem cá as cebolas mas depositam as lecas lá fora? Também está certo? E as empresas com capital do Estado que abrem “escritórios” lá para os lados das tulipas? É só flores, não é…
Não gosto desse teu miado de indiferença. Pareces as Finanças sempre a olharem para baixo para não cheirarem o esturro lá de cima!
           Tenho que gritar contigo – já que ninguém me ouve – que há leis neste país! Está bem…desculpa…há leis que não são para todos, bem sabemos que o tamanho da conta bancária é inverso ao alcance da lei. MAS NÃO DEVIA SER, gata de uma figa!
E depois vem o grande convite ao crime: a polícia apanha, os tribunais soltam! Os meliantes batem e roubam à vontadinha, e saem depressinha do tribunal em liberdade, enquanto a vítima fica uns tempos por lá a pagar a queixa!
Como poderei eu ou outro humano cumpridor respeitar a lei? Se um figurão, faça o que fizer, não vai preso porque tem dinheiro e excelentes advogados, terei ou não o direito de fazer o mesmo que ele? Sim, tenho! Mas não posso! É que sou da imensa arraia-miúda, faço por cumprir as leis e nem tenho dinheiro para pagar a advogados principiantes quanto mais a outros, se for apanhado nalguma falta!
Ei! Qué lá isso?! A gata saiu sorrateira pela janela! Acha-se importante, e por isso entende que não pode ser presa e fechada em casa! Animais!...

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